Inclusão – as políticas na prática

Inclusão – as políticas na prática

1.  Inclusão – as políticas na prática

1.1  Princípios da inclusão

Esta seção apresenta os direitos da criança, considerações de ordem prática, e o que pode ser feito para proporcionar um ambiente inclusivo para as crianças com dificuldades de aprendizagem como a dislexia.

1.1.1  O que é inclusão?

Seu papel como professores é ajudar todas as crianças a desenvolver ao máximo seus pontos fortes em uma atmosfera amigável, na qual elas aprendam a se respeitar umas às outras. Sejam quais forem suas dificuldades, não devem ser estigmatizadas, sendo segregadas das outras.

Este é um enorme desafio.

No entanto, de acordo com o Dr. Harry Chasty, consultor internacional em dificuldades de aprendizagem, 90% das crianças com dislexia podem aprender de verdade em uma sala de aula convencional. Mas isso só pode acontecer se os professores forem treinados para entender a dislexia, se souberem como identificá-la e se puderem adaptar seu ensino às necessidades de aprendizagem das crianças.

É forte o argumento a favor da não segregação das crianças com dislexia de seus colegas de classe: elas não se sentirão excluídas nem perderão sua auto-estima. As crianças que não têm dificuldades de aprendizagem também se beneficiarão, pois se enriquecerão ao desempenharem o papel de ajudar as outras e apreciarão o fato de que as pessoas com dislexia, mesmo tendo dificuldades na leitura e na escrita, têm suas próprias qualidades e habilidades especiais.

Alguns países já colocaram em prática a política de inclusão. A Finlândia, que é a primeira da lista nas pesquisas internacionais em função de seus notáveis resultados, é um exemplo. Todas as crianças são ensinadas juntas. As que precisam de mais ajuda participam de grupos menores ensinados por especialistas em, por exemplo, dislexia ou o espectro autístico. Ou então elas aprendem umas com as outras ou umas das outras na classe convencional.

Em alguns casos, a ajuda individual pode ser dada por especialistas em dislexia. Nesse caso, vocês devem ter uma ligação com a pessoa envolvida.

Fiquem atentos para não retirar as crianças de suas atividades. Por exemplo: esporte, arte, ou desenho e tecnologia, nas quais elas podem se destacar e que levantam a moral delas.

Se vocês quiserem saber mais sobre a política da UNESCO para a inclusão, no interesse de discutir com o seu colega.

.

1.1.2  Três condições para a criação de um ambiente inclusivo 

A fim de atender à política da UNESCO, Henneman, Kleijners e Smits dizem que há três condições para a criação de um ambiente inclusivo.

Condição 1: A escola deve sempre ter uma atitude positiva em relação a crianças com dislexia.

Como diz Alan Sayles, Inspetor da Educação Especial na Irlanda, ‘A dislexia deve ser entendida e aceita em toda a escola como parte da política escolar.’

A dislexia é algumas vezes descrita como um handicap ‘oculto’. Mas ela também exige assistência especial. Mas lembre-se sempre:

  • o ato de escrever sob pressão reflete um nível abaixo do potencial e do conhecimento real da criança que se debate com a leitura e a escrita.
  • vocês estão examinando o conteúdo ou o conhecimento, na maioria dos casos, não a capacidade de concentração ou as habilidades de escrita das crianças.

Os exames orais são muito melhores do que os escritos. Deve ser concedido mais tempo. Em casos mais extremos, alguém poderia escrever as respostas da criança.

Condição 2: Apoio continuado e abrangente

.

;

Este esquema simplificado representa:

O aluno

A escola: diretora, professor da turma e assistentes de apoio à aprendizagem.

Lar: no sentido mais amplo – orientadores, incluindo pai e mãe, outros membros da família, amigos e vizinhos apoiadores.

Especialistas: psicólogo educacional, pediatra, médico, fonoaudiólogo ou outro orientador especializado que ajude a criança fora da escola.

É necessário que a criança e todos os envolvidos no bem-estar da criança com dislexia atuem juntos como uma equipe. Dessa forma vocês poderão colocar em prática um plano de ação eficaz, harmonioso e que economiza tempo.

Será mantida uma comunicação aberta e continuada com a ‘escola’, a ‘família’ e os ‘especialistas’ através da realização de breves encontros em intervalos previamente acordados.

Os professores não precisam ficar sozinhos e não devem trabalhar em isolamento de forma alguma.

Os objetivos do apoio devem ser discutidos e a ajuda deve ser oferecida de acordo com as necessidades.

Mais sobre a ‘Família’

A comunicação com os pais ou a ‘família’ pode tornar-se um assunto delicado. Como vimos na Seção 2, podem surgir sentimentos negativos em algumas crianças e seus pais. Os pais podem não querer admitir o problema ou ficar ansiosos após o diagnóstico. Podem perder a esperança e se sentirem frustrados, quando se confrontarem com o fracasso de seus filhos.

.

ATIVIDADE 16

Pedimos que deem uma olhada na breve referência ao pai de W.B. Yeats e nos videoclipes que se seguem e, então, discutam com seus parceiros de curso o que vocês fariam no caso de se depararem com esses pais. O que vocês diriam a eles no início do ano escolar?

 

 

.

Relato do pai de Alessandro e de Alessandro

 

Interação entre Marcos e sua mãe sobre o dever de casa.

 

.

.

.
Condição três: A criança com dislexia deve estar no centro da sala de aula.

Mais frequentemente do que se pensa, as crianças com dislexia não entendem suas dificuldades. Elas desanimam e acabam se sentando no fundo da sala, olhando pela janela, perdidas em seus sonhos.

Procurem também:

  • Perda do ânimo

Com o desânimo, a motivação para aprender desaparece rapidamente. As crianças com dislexia são as primeiras a saber que aprendem de forma diferente: elas estarão sempre plenamente conscientes dos problemas que têm com a língua escrita, em comparação com seus pares. Rapidamente se dão conta de que não podem se expressar por escrito. Perdem, assim, a autoestima.

  • Comportamento descontrolado

Às vezes, as crianças deliberadamente fazem o papel de palhaço ou se tornam agressivas numa tentativa de ganhar o respeito dos outros.

Se essa atitude continuar, vocês deverão organizar uma conversa a dois com o objetivo de convencê-las de que estão do lado delas e dispostos a trabalhar com elas para ajudá-las a ter sucesso na classe.

Vocês poderiam:

– discutir com as crianças a dislexia em geral bem como suas dificuldades específicas.

– façam um acordo com as crianças sobre o que vocês esperam delas quando interrompem seu comportamento agressivo e como vocês oferecerão seu apoio.

  • Dias bons e dias maus

Os professores ficam perplexos quando são confrontados com as mudanças de humor e as produções variáveis das crianças com dislexia. Se eles não entendem a situação, podem ficar irritados ao verem uma palavra escrita corretamente num dia e incorretamente no outro, ou até mesmo escrita de duas maneiras no mesmo texto.

Lembre-se sempre de que as respostas orais e escritas não correspondem ao que está nas cabeças das crianças com dislexia e que o comportamento mutável é parte do quadro da dislexia.

De forma alguma, não caia na armadilha da motivação externa como, por exemplo, prometer um prêmio se elas se saírem bem ou cancelar o recreio no caso de se saírem mal.

Esses métodos minam a confiança das crianças em si mesmas. Por todos os meios possíveis, tentem promover o desenvolvimento de sua motivação interna, de tal forma que possam sentir que têm domínio sobre sua aprendizagem. Agindo assim, as crianças podem readquir sua autoconfiança.

.

.© Dr. Vincent Goetry e Dyslexia International (Versão Original)

© Dra. Ângela Maria Vieira Pinheiro (Coordenação da tradução e adaptação da VB)