– 4.3 Compreensão de textos escritos

– 4.3 Compreensão de textos escritos

4.3 Compreensão de textos escritos

4.3.1 Encontrar um texto adequado

Primeiro você precisa saber qual deva ser a idade da criança para a leitura e, em seguida, precisa selecionar um texto apropriado. Avaliar a idade de leitura (L) de um texto é extremamente difícil, e tem havido muitas tentativas de desenhar uma fórmula para encontrar a idade de leitura de um texto.

Verifique três exemplos de fórmulas para determinar a idade de leitura de um texto, clicando nas setas acima.

Estamos baseando o que se segue no conselho de Hornsby, Leslie e Caldwell, a fim de procurar erros típicos e interpretá-los. De acordo com Hornsby, o texto deve ser relativamente fácil, mas não muito fácil, de modo que você possa basear suas conclusões sobre cerca de 25 erros. 

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4.3.2 Avaliação da compreensão

Leslie e Caldwell usaram quatro medidas para examinar a compreensão leitora:

Ao longo da escolaridade, as crianças se deparam com textos baseados em sequências de eventos (textos narrativos) ou com aqueles que requerem o entendimento de conceitos mais profundos ou analíticos (textos expositivos). Os primeiros podem ser testados com perguntas tais como “E, então, o que aconteceu?” e, os segundos, com perguntas tais como “E, agora, como é que a pessoa da história está se sentindo?” Os primeiros são mais fáceis de lembrar.

Leitores com conhecimento prévio do texto vão se lembrar e compreender melhor do que aqueles sem conhecimento prévio.

Leitores com dificuldades acham mais fácil ler em voz alta do que em silêncio; estes leitores vão ler em voz alta e silenciosamente na mesma velocidade, traindo a falta de automaticidade no reconhecimento de palavras. Bons leitores leem mais rápido quando leem silenciosamente para si mesmos do que quando leem em voz alta.

. Leitores fracos usam estratégias menos eficientes para encontrar informação do que bons leitores para superar as dificuldades na compreensão.

Leslie e Caldwell sugerem quatro passos para examinar a compreensão de textos escritos.

i) Avaliar o conhecimento prévio da criança sobre o tópico do texto

Isto deve ser feito de duas maneiras:

  • Usando uma tarefa conceitual: você faz quatro perguntas relativas às ideias prévias ao texto apresentado. Atribua de 0 a 3 para cada resposta concernente a sua qualidade: um bom sinônimo, um exemplo relevante, etc.
  • Usando uma tarefa de previsão: você diz para a criança “Uma vez que o título da passagem é … e que ele fala sobre …, …, … e … (nomeie os quatro conceitos abordados na tarefa conceitual), sobre o que você acha que o texto vai ser? Você soma o número de verbos ou substantivos que a criança der, que sejam explícita ou implicitamente relacionados com a texto.

Você pode então marcar os “resultados”, adicionando as notas dadas à tarefa conceitual ao número de respostas corretas atribuídas na tarefa de previsão, a fim de obter uma estimativa do conhecimento prévio da criança.

No estudo de Leslie e Caldwell, as crianças que obtiveram pelo menos 55% neste teste alcançaram pelo menos 85% nas questões de compreensão após a leitura do texto. Isso mostra que o conhecimento prévio é um fator importante para a compreensão de um texto.

ii) Apresentação do texto

Dar à criança um texto, convidando-a a ler em voz alta por si própria, sem sua ajuda.

Se o nível do texto for apropriado para a idade, o aluno deverá ser capaz de lê-lo mesmo se alguns erros forem cometidos. No entanto, se a criança estiver completamente bloqueada, pare imediatamente e encontre uma passagem menos difícil.

Note-se que algumas crianças, especialmente aquelas com dislexia, têm que se acostumar a ler e têm que encontrar a coragem para ler em voz alta; às vezes, elas vão dar a impressão de que o texto é muito difícil depois de tentar apenas as primeiras linhas. Então faça tudo o que você puder para colocá-las à vontade e, se necessário, peça à criança que leia algum outro texto em voz alta antes de iniciar o teste real.

Tente não mostrar, verbalmente, ou de outra forma, que a criança tenha cometido um erro e evite soprar a palavra a menos que seja absolutamente necessário. Se a criança se recusa a ler uma palavra, incentive-a a adivinhá-la.

Prepare uma segunda cópia do texto para marcar os erros, embora você não possa ser capaz de marcá-los todos. É altamente recomendável fazer uma gravação para que você possa ouvir novamente, e observar o comportamento da criança durante o teste.

Finalmente codifique e analise os erros (veja abaixo).

iii) Avaliação

Isto é feito de duas maneiras:

  • Através da recordação:

Peça à criança para lembrar o texto com suas próprias palavras, como se contando a história a alguém que não a leu. Para isso, você terá feito uma lista dos elementos-chave do texto de antemão que você pode marcar quando a criança se lembra deles.

Mais uma vez, é útil gravar a leitura de modo que você possa ouvi-la mais tarde.

Esta recordação do texto pode fornecer informações qualitativas importantes e você pode usá-la para responder o seguinte:

– nas histórias, a recordação mantém a estrutura básica: background-personagens-problema-eventos-resultado? Incluiu os pontos mais importantes?

– Em textos expositivos que vão mais fundo no enredo e nos personagens envolvidos, a recordação traz de volta a ideia central e os detalhes que a apoiam? Incluíram os pontos mais importantes?

– A recordação é sequencial?

– A recordação é precisa?

  • Através de perguntas: 
    – explícitas, para as quais a resposta está claramente no texto
    – implícitas, para as quais a criança deve usar as dicas no texto. Isto permitirá examinar as habilidades da criança para fazer inferências.

iv) Estratégias utilizadas para completar a informação

Quando não for possível saber se uma resposta errada decorre de problemas de compreensão ou de memória, depois de fazer perguntas e encontrar o nível de compreensão, você pode apresentar o texto novamente e pedir à criança para encontrar as respostas em falta ou corrigir os erros. Se a criança puder fazer isso, ela, provavelmente, entendeu o texto. Se ainda tiver dificuldades, a fim de ver se a criança pode encontrar a pista, você pode dar a resposta certa e pedir à criança que encontre onde no texto isso é sugerido, ou você pode dar a pista e depois ver se a criança pode chegar à resposta correta. Este procedimento fornece indicações úteis, dado que as crianças com dificuldades de leitura acham mais difícil seguir as pistas do que bons leitores. 

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4.3.3 Análise dos erros

Os tipos de erros cometidos podem fornecer indicadores importantes das estratégias que a criança está usando. Hornsby sugere qualificar os erros como positivos, quando indicam boas estratégias, ou negativos, quando indicam estratégias inadequadas:

Erros positivos incluem:

– inserção, omissão ou mudança de sequência e falta de atenção à pontuação desde que o significado não seja alterado;

– repetição de uma palavra ou parte da palavra, que, pelo menos, sinalize uma tentativa de chegar ao significado;

– auto-correção.

Erros negativos incluem:

– inserção, omissão ou mudança de sequência e falta de atenção à pontuação pelas quais o significado é alterado;

– recusa a ler uma palavra, o que sinaliza ausência de qualquer tentativa de decodificar ou de recuperação contextual

Em geral, é também importante ouvir a entonação. Se a leitura parecer natural, geralmente significa que o texto foi compreendido. Se for sem variação tonal ou forçada, então pode haver um problema de compreensão. 

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4.3.4 Usando os resultados do teste de compreensão 

É vital usar o que você aprendeu com este exame para estimular as estratégias positivas que estão sendo sub-utilizadas. 

Estas podem ser, por exemplo, para: 

– mais conexões com o conhecimento prévio 
– prestar mais atenção à pontuação 
– melhorar as estratégias de decodificação 
– incentivar a autoverificação e a autocorreção 

No entanto, tenha muito cuidado a fim de guiar a criança para que se afaste de estratégias que estejam sendo superexplorados, normalmente aquelas que dependem apenas do contexto, negligenciando, assim, outras estratégias.  

Você pode querer usar um ou mais textos para testar a compreensão, a fim de responder a questões precisas como  variáveis, tais como: 

– compreensão de assuntos científicos versus uma narrativa do mesmo nível 
– leitura silenciosa versus leitura em voz alta 
– comparação do desempenho de recordação e compreensão de um texto lido por você, com um texto lido pela criança.

 

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© Dr. Vincent Goetry e Dyslexia International (Versão Original)

© Dra. Ângela Maria Vieira Pinheiro (Coordenação da tradução e adaptação da VB)